sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A imprensa dominante e seu universo paralelo

Todo mundo sabe que a imprensa tradicional do Brasi é viciada, mas não custa a gente entender um pouco melhor e relembrar. Temos memória curta por tradição. Ainda bem que temos a internet para apoiar a mente enquanto refletimos.

Via Crônicas do Motta

Quando comecei a trabalhar no Estadão, no fim da década de 80, havia no jornal uma tal contaminação entre notícia e opinião que o nome de Leonel Brizola não podia ser publicado: ele era o "caudilho" e ponto.
Certo dia, pressionada pelo crescimento da Folha, a direção resolveu agir, mudou o comando da redação e deu ao novo chefe liberdade para fazer o que julgasse certo.
Ele então decretou que a opinião ficava restrita às páginas 2 e 3, de artigos e editoriais. O restante das páginas estaria reservado às notícias.
Claro que nunca foi bem assim, que as pautas eram mais ou menos dirigidas, que os títulos eram mais ou menos parciais, mas, de toda forma, houve um avanço na qualidade do jornalismo que o Estadão fazia. Pelo menos ninguém precisou mais chamar Brizola de "caudilho"...
Hoje, se isso não ocorre, existe algo pior na imprensa brasileira, não só no Estadão. É que não dá mais para confiar em nenhuma notícia que se lê: todas estão contaminadas pela ideologia política dos donos das empresas - e, como se sabe, eles são de um reacionarismo de doer.
Qualquer coisa que acontece no país vira um panfleto contra o governo, como esse caso recente do Enem. Ora, a notícia seria se, num exame aplicado para mais de 4 milhões de estudantes de uma só vez, não se registrasse nenhuma anormalidade. Mas quem leu a cobertura dos jornalões fica com a certeza de que o Enem foi feito por um bando de paspalhões e que a única solução para evitar que os pobres estudantes sejam prejudicados é acabar com a prova.
Se esse tipo de jornalismo mentiroso e calhorda ficasse restrito a um caso, tudo bem, a gente poderia dizer que ele é uma exceção. Não é isso, porém, o que ocorre. Praticamente tudo o que é editado passa por um filtro que distorce a realidade e a transforma naquilo que os jornais gostariam que fosse - eles espelham um mundo imaginário, que existe apenas nas cabeças de algumas pessoas.
Tenho certeza que esse modelo de jornalismo é suicida, que não vai durar muito tempo. Com a internet as pessoas percebem quase imediatamente o conto do vigário que os jornais estampam.
E não deixa de ser um exercício muito interessante ficar na plateia, observar esse jogo se desenvolver, ver as jogadas desesperadas do lado que inevitavelmente vai ser derrotado.


Carlos Motta é jornalista profissional diplomado e está na ativa desde a década de 70

Nenhum comentário:

Postar um comentário