Tenho estado profundamente impressionado com alguns acontecimentos nesses últimos dias de campanha eleitoral. As maiores deficiências morais e o total atraso de parte da nossa sociedade nunca foi tão evidente.
De um lado, vemos eclodir suspeitas de corrupção. A oposição vai para cima acusando e batendo, sem olhar onde. Quem estiver na frente apanha, mas a candidata do governo continua sendo o alvo preferido, afinal está na frente nas pesquisas. Os acusados, declarados desde já culpados e, sem qualquer direito a defesa, são execrados. Será que essas suspeitas foram percebidas apenas agora? Não. Já se sabia antes, mas por questões óbvias, somente veio à tona na época da eleição. Erraram os suspeitos? Que se investigue e se a justiça entender que são culpados, que sejam punidos exemplarmente. O que não se pode é fazer ilações com fins eleitoreiros.
Opositores se comportam como se fossem os arautos da honestidade. Combinemos: apenas para quem não se lembra do que foi o governo de FHC, Serra e Cia. Santo, ao menos na terra, não existe. O que existe é que uns investigam, punem e afastam (vide o exemplar trabalho que a Polícia Federal está fazendo, conselho de ética da presidência, etc.), outros, escondem toda a sujeira para debaixo do tapete e ficam numa desfaçatez de dar nojo.
A imprensa, somente não declara voto para não ficar impedida de continuar sua campanha, mas todo mundo sabe que tem lado. E o que a move? Interesses, claro, econômicos. Lula não monopolizou recursos da propaganda oficial, criou uma agência estatal, incentivou a internet livre, abriu novas concessões para empresas de comunicação e incentivou a educação. Quer dizer, contribuiu sobremaneira para reduzir o poder das gigantes da imprensa brasileira, que viram reduzir sua dominação. Para tentar brecar esse avanço da liberdade, só mesmo uma derrota de Dilma. Aliás, recentemente o resultado parcial de uma pesquisa no Portal Imprensa apontava que apenas 24% da população aprova a grade de programação televisiva brasileira. Os números falam por si.
E qual o caminho para a grande mídia? Alardear a corrupção até causar medo (sem provas e como se tivesse nascido com Lula e Dilma e fosse morrer com eles) e que Lula e Dilma são contra a imprensa livre. O maior absurdo que já se ouviu. Alguém em são consciência acredita que pessoas que viveram, foram presos e torturados pela ditadura vão querer “reprisar o filme”? Os próprios correspondentes estrangeiros que vivem no Brasil não entendem essa acusação leviana. Segundo o correspondente do Jornal britânico Financial Times no Brasil, Jonathan Wheatley, temos uma das imprensas mais livres do mundo.
Em que outro lugar do mundo um presidente ou qualquer pessoa comum agüentaria as baixarias que a Revista Veja e a Folha de São Paulo já publicaram contra Lula? Em que outro país do mundo a imprensa acusa, exalta ou derruba quem quiser em apenas um golpe sem direito a defesa? Poucos. Pois é, a imprensa brasileira é exageradamente livre. Em uma democracia de verdade, os direitos das pessoas precisam ser respeitados. A imprensa brasileira não respeita. Aliás, respeita apenas daqueles que lhes interessa. Alguns questionarão se nos EUA não há mais liberdade. Acontece que, nos EUA, a imprensa declara voto, tem lado e alardeia isso. Então, todo mundo sabe quem é quem e pode escolher o que quer ler, assistir ou ouvir. Aqui não. Aqui o fazem de modo sorrateiro, disfarçado de “liberdade” e a população fica, mas está deixando de ser, refém.
Todo e qualquer acontecimento que fuja a normalidade é atribuído a “interesse político”. Parou o trem em São Paulo. Foi o Mercadante e a Dilma, claro, entre meio a um comício e outro, sabe como é.....
Provas? que nada, afinal é eleição e, como em tantas outras oportunidades, parece que vale tudo para conquistar votos. Princípios? Bobagem; coisa ultrapassada; a questão é chegar ao poder, depois “a gente vê como fica”, pensam.
Promessas eclodem de todo tipo. Serão cumpridas? “Bom, agora é eleição, depois é outro papo”, pensam.
Na internet pipocam vídeos bisonhos contra a candidata de Lula. Vídeos apócrifos, claro, como manda a boa regra da traquinagem política. E o TSE? Não pode punir porque não têm provas de quem fez. Ok, mas então que se tire do ar e se investigue a autoria. Mas, parece que vai mesmo é “lavar as mãos”.
A oposição brada que Lula e Dilma estão unidos a alguns “caciques” da política nacional, os mesmos aos quais eles próprios já se uniram no passado. Aliás, esquecendo que ela própria, a oposição, mantém-se alinhada à maioria dos usurpadores da liberdade e da dignidade do nosso povo em passado não muito distante. E, nesse caso, não é por apoio, mas por ideologia.
Então, em relação aos apoios polêmicos a Lula e Dilma, é preciso entender que: Primeiro, apoio não se pode rejeitar de ninguém. Segundo, receber apoio não significa alinhar-se ao apoiador. Terceiro, não se pode governar sem apoio político. A política brasileira tem essa peculiaridade, que exige alianças e negociação no Congresso para aprovar projetos. Sempre foi assim e só vai mudar quando houver uma autêntica reforma política e moral em toda nossa sociedade. Não podemos esquecer que o político reflete o que é a sociedade. Portanto, nós, a sociedade, é que precisamos mudar e tirar os velhacos da política. Se Lula ignorasse a realidade atual não conseguiria fazer nada do que fez e, provavelmente, teria sido destituído da presidência antes do fim do primeiro mandato.
Quanto às entrevistas dos candidatos aos canais de televisão, principalmente na Globo, é fácil perceber que procuram falar somente da personalidade e dos supostos casos de corrupção. Debate de idéias e questionamento sobre o projeto para o país pouco, quase nada. Fico decepcionado quando vejo jornalistas inteligentes como William Bonner, Fátima Bernardes, William Waack, dentre outros, se comportando como moleques. Fico enraivecido quando vejo Merval Pereira falando e escrevendo de forma parcial, desconsiderando fatos, negligenciando a história. Em recente programa na Globonews, Merval Pereira disse que Lula deveria ter ficado neutro nessa eleição, como fez FHC quando ele se elegeu. Claro, ficaria mais fácil derrotar Dilma. Primeiro, Lula está certo em defender a candidata que ele próprio escolheu para dar continuidade ao que ele iniciou. É natural que isso aconteça, em qualquer lugar do mundo. Aqui nossa imprensa acha que não pode, mas só o Lula não pode. Segundo, FHC defendeu seu candidato (José Serra) em 2002 e só não apareceu mais porque os marqueteiros não deixaram. Popularidade na lona.
Fico impressionado quando vejo o candidato Serra ameaçar abandonar entrevista porque lhe perguntam sobre aquilo que ele mais fala: corrupção. Ah! Acontece que esse canal de TV não faz parte dos seus aliados e certamente teria visão mais imparcial. Circula amplamente pela Internet o áudio em que Serra chega a ser grosseiro com a jornalista Marcia Peltier da CNT, que, aliás, possui o vídeo mas o escondeu.
Fico triste quando vejo parte da nossa sociedade e, mais uma vez a imprensa, defender que o Brasil contrarie sua tradição de diálogo e defesa da paz e se alinhe ao radicalismo americano contra o Irã, ignorando completamente o fato de que o maior prejudicado não será o Ditador iraniano, mas o povo iraniano, já tão empobrecido. Parece que ver o Brasil sendo independente dos americanos incomoda. Ver o Brasil negociando com o mundo todo, abrindo embaixadas em vários países, ampliando seu leque de alternativas comerciais incomoda. Sempre ouvi o ditado de que não se pode colocar todos os ovos em um único sexto. É o que Lula está fazendo. Mas o conservadorismo brasileiro segue célere na sua nostalgia do Brasi colônia. Preferiam o Brasil suplicando uns trocados ao FMI. Hoje o Brasil empresta ao FMI, algo inimaginável poucos anos atrás.
Entretanto, não é só a mídia, a oposição e o conservadorismo xenófobo que cometem barbaridades. Muita gente está embarcando nessa onda. Vejo na Internet Blogs publicando charges de um homem matando o presidente; protestos em Brasília, pasmem, de estudantes, chamando Dilma de anticristo (menos mal que eram apenas 10); vejo gente reproduzindo e acreditando em todo tipo de e-mail que circula falando as maiores barbaridades; vejo gente esquecendo os enormes avanços do Brasil nesses últimos anos; vejo uma candidata que outrora era de esquerda e que, magoada por não ter sido ungida com a benção do presidente e por ter que dialogar com ministros que pensam diferente, resolveu trocar de lado, apresentando-se como novidade; como alguém que vai “dialogar” com todos.
O conservadorismo brasileiro ainda não se conformou com a reviravolta na economia nacional que contribuiu para lhe tirar privilégios; ainda não se conformou em ter um metalúrgico sem um dedo, apenas com primário e curso de torneiro mecânico na presidência. Causa-lhes raiva saber que esse emergente social, retirante nordestino, conseguiu mudar o país e vai entrar para a história como um dos maiores presidentes que o mundo já viu. Causa-lhes pânico imaginar que esse mesmo presidente pode eleger sua sucessora e que ela vai dar continuidade ao que ele começou. Uma mulher na presidência? É mesmo o fim para quem sempre defendeu castas e privilégios de toda ordem.
E nós seguimos, sem um debate de idéias e de propostas; sem um debate de alto nível como merece o povo brasileiro.
Enfim, essa eleição, vai ficar marcada na minha mente como uma das mais despolitizadas. Prova inequívoca de que a sociedade brasileira ainda tem muito que avançar na educação, na moral e nos valores.
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